Descubra como atuam os anticorpos

Modelo chave-fechadura

As coisas que aprendemos em sala de aula, nem sempre são mostradas do verdadeiro modo em que ocorrem. Muitas vezes é feito o uso de analogias para se explicar certas teorias, com o intuito de facilitar a aprendizagem. Assim é feito constantemente para  se explicar, por exemplo, a especificidade de uma ligação entre enzima e substrato, usando o famoso modelo “chave-fechadura”.

Nesse modelo, uma determinada enzima se ligaria com apenas um determinado formato de substrato, o qual completaria perfeitamente os contornos da enzima.

No caso do sistema imunológico, a mesma analogia pode ser usada para se explicar a especificidade mostrada na relação entre antígenos e seus respectivos anticorpos.

Porém não é a geometria dos sítios de ligação entre anti-corpos e antígenos que realmente influencia na ligação entre os dois. Tal geometria é sim muito importante, mas em quesitos que serão apontados mais à frente.

“Então o que realmente influencia?” – Você deve estar se perguntando. A resposta é muito simples, o que faz a diferença na hora da junção do antígeno com o seu respectivo anticorpo é a composição química de ambos. Para compreender melhor, pense da seguinte forma: Para o anticorpo se “encaixar” no antígeno, a força de atração entre os dois deve ser maior do que a de repulsão, dessa forma, apenas uma combinação especial entre a composição química das partes que se “encaixam” (essas partes serão discutidas mais a frente) é que irá determinar essa prevalência da atração sobre a repulsão.


Se você já estudou síntese proteica, pode ser que esteja se lembrando de algo. Caso não tenha lembrado de nada, aí vai uma dica, também há no DNA/RNA interações específicas, onde compostos formam uma espécie de dupla. Se você ainda não se lembrou, aí vai a imagem:

As “duplas” no caso do DNA são formadas por Adenina-Timina e Guanina-Citosina, já no caso do RNA uma dupla sofre uma pequena troca, entra Uracila e sai Timina.

Essas “duplas” tem importantíssimas funções, como exemplo podemos citar as combinações únicas no momento de se agrupar os aminoácidos para sintetizar proteínas. Essas combinações só são únicas pelo fato da interação entre essas duplas. A imagem seguinte mostra o porque de tal interação, no caso do DNA.

As interações químicas entre as “duplas” do DNA são chamadas de ponte de hidrogênio (em destaque) que proporcionam atrações muito fortes, sendo essa a causa das apreciáveis interações entre essas moléculas.

No caso dos anticorpos, a interação anticorpo-antígeno é dada de forma semelhante.

“Então quer dizer que a geometria não influencia em nada?”

Influencia sim, e muito!

Porém antes de se falar na forma com que a geometria age, primeiramente devemos falar sobre as partes que se unem entre o anticorpo e o antígeno.

Como você já sabe, antígeno é tudo aquilo que possui potencial suficiente para gerar uma ação de defesa no nosso sistema imunológico, podendo ser desde uma bactéria até um pelo de um animal silvestre. Porém não há apenas um tipo de anticorpo possível para cada antígeno, já que existe um determinado anticorpo para cada tipo composto químico reconhecível pelo organismo, que por sua vez existem aos montes em um só antígeno, podendo ser todos iguais ou não.

 Cada uma dessas partes recebem o nome de epítopo, que representa a mínima parte de uma antígeno que tem potencial de gerar uma resposta imune, que também pode ser chamada de determinante antigênico. No caso desses epítopos de um antígeno não serem todos iguais, haveria a necessidade de se produzir vários tipos de anticorpos para cada antígeno, o que acontece raramente. Isso se deve ao fato de um tipo de epítopo prevalecer em relação a outro, a isso se dá o nome de imunodominacia, e a esse determinante antigênico se chama de grupo imunodominante.

“E o que a geometria tem a ver com isso?”

A forma do antígeno está totalmente ligada a determinação de qual será o grupo imunidominante. Um tipo de determinante antigênico que estiver totalmente exposto a uma possível ligação entre ele e um anticorpo com certeza será imunodominante.

Vamos descobrir agora como se dá a ação dos anticorpos na defesa de nosso organismo:

Como já foi dito no tópico anterior, sobre o funcionamento de nosso sistemaimunológico, existem dois tipos de imunidade, a celular e a humoral, sendo a última que detém a ação dos anticorpos.

Nela há as seguintes sequências de ações, mostradas simplificadamente, dando ênfase apenas na ação dos anticorpos:

  • Reconhecimento dos antígenos invasores por meio dos linfócitos B;
  • Multiplicação por meio de mitoses desses linfócitos;
  • Diferenciação em plasmócitos (células produtoras de anticorpos) e linfócitos B de mémoria;
  • Geração de anticorpos especificos para aquele determinado antígeno;

Após a criação de anticorpos específicos eles se aderem aos sítios de ligação dos antígenos. Como os anticorpos não possuem o poder de destruir os microorganismos invasores, aqueles agem de tal forma que criam efeitos com o intuito de retardadar o ataque dos invasores, dentre esses efeitos se destacam:

  • Precipitação: Faz com que moléculas relativamente pequenas que anteriormente possuíam uma grande mobilidade, permaneçam unidas juntamente com os anticorpos, tirando assim seu poder de penetração em outras células, por exemplo.
  •    Neutralização:  Ocorre geralmente com macromoléculas ou com microorganismos inteiros, os anticorpos completam todos os sítios de ligações antígeno-anticorpo, impedindo assim a ação dos invasores. Por exemplo, um vírus seria impedido de realizar o reconhecimento celular com sua célula-alvo. Desta forma ele não poderia injetar seu material genético na célula hospedeira. Outra vantagem da neutralização é que desta forma os antígenos se mostram impedidos de se reproduzirem.
  •    Aglutinação:  Vários anticorpos se ligam a vários antígenos e posteriormente juntam suas partes opostas àqueles ligadas com os antígenos, formando assim um anel, evitando que os invasores se espalhem pelo organismo.

Após certo tempo, aparecem células fagocitárias, geralmente macrófagos, que fagocitam os antígenos juntamente com os anticorpos que neles estavam ligados.


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